
Com mais de 20 novelas, 30 filmes e dezenas de peças de teatro no currículo, Louise Cardoso está comemorando 40 anos de carreira onde mais gosta: sobre o palco. Ela mostra toda sua versatilidade em oito personagens totalmente diferentes no espetáculo A reunificação das duas Coreias.
“Me sinto feliz por ter chegado até aqui fazendo o que amo e o que considero ser minha missão nesta vida”, diz ela, que integrou o time do humorístico TV Pirata, nos anos 1980, e viveu Leila Diniz na cinebiografia sobre a atriz.
Mas o início não foi nada fácil. “Vivíamos o horror da ditadura e havia a censura. Minha estreia profissional foi com a peça Quarteto, de Antônio Bivar, sob a direção do mestre polonês Ziembinski. Fomos proibidos de fazê-la instantes antes da estreia”, relembra a atriz, que conversou com a coluna sobre sua trajetória.
É difícil interpretar tantos personagens na mesma peça?
O espetáculo que o João Fonseca [diretor] concebeu é um exercício diário fascinante. São oito personagens bem diferentes uns dos outros, que precisam ser vividos de maneira totalmente realista, verdadeira. As histórias são curtas e já começam no clímax da ação. Temos de ter total domínio e entendimento das palavras do autor e dos sentimentos de cada personagem, e compreender de maneira profunda qual o verdadeiro problema de cada um.

Você lembra de como foi sua estreia, há 40 anos?
Em minha estreia profissional, com a peça Quarteto, de Antônio Bivar, sob a direção do mestre polonês Ziembinski, fomos proibidos de fazê-la momentos antes de entrarmos em cena, com a casa lotada e praticamente toda a imprensa e a classe teatral da época presentes. Me lembro de como me senti frustrada e decepcionada com o meu país. Duas ou três semanas depois e muitos cortes no texto e na encenação, conseguimos fazer a peça, que foi um sucesso. Hoje, não temos mais uma censura declarada e tão forte quanto antes. Mas acredito que, por causa de tantas dificuldades, tínhamos mais paixão do que hoje.
O que melhorou ou piorou na profissão nos últimos anos?
Hoje em dia, vejo alguns jovens atores muito preocupados com a mídia, com seus empresários estimulando mais o lado comercial que o artístico, isso é ruim. Antes, quando comecei, tínhamos um público para o teatro muito maior e interessado do que hoje: era o público da ditadura militar, ávido para ouvir nossas mensagens cifradas, que queriam muito ver um bom texto e um bom espetáculo, que, nas entrelinhas por metáforas, falasse da repressão e da falta de liberdade. A peça nova, com texto do Jöel Pommerat, instiga a plateia a refletir e diverte ao mesmo tempo, com uma dramaturgia ágil e estranha, como esses tempos em que vivemos.

Como está vendo a crise no país no momento?
Fico muito deprimida com tantos brasileiros desempregados e vivendo nas ruas. Sinto uma profunda tristeza pela falência de nossas instituições e pela miséria e ignorância do nosso povo. Tenho um sonho de que um dia alguém que realmente ame este país possa nos governar. Tenho um sonho de que a gente um dia aprenda a votar e tenha mais consciência política. Estamos passando por uma grande limpeza, ninguém aguenta mais tanta corrupção. Acredito que nossa economia vai se levantar muito lentamente e que vamos sair aos poucos desse enorme caos. Pelo menos rezo para que isso aconteça.
Quem é a Louise por trás da atriz?
Uma mulher muito feliz por ter chegado até aqui fazendo o que ama e o que considera ser sua missão nesta vida. Louise gosta muito de fazer teatro, cinema, televisão e trabalha loucamente, mas se diverte muito no trabalho, vive para isso. Fora trabalhar, gosta de ler romances, ir ao cinema, teatro, fazer exercício, meditar, namorar, encontrar os amigos e tem paixão pela natureza. É bem-humorada e alegre na maioria das vezes e se dá bem com todos no trabalho, mas pode virar uma onça se for necessário.